sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

MADE IN UCRÂNIA na TV Paraná Educativa

O documentário de longa metragem MADE IN UCRÂNIA - OS UCRANIANOS NO PARANÁ, de Guto Pasko, será exibido pela TV Paraná Educativa neste domingo dia 02 de janeiro de 2011, as 21:30hs. A exibição será em rede estadual em canal aberto e em rede nacional via satélite.

A exibição será uma homenagem da TV aos 120 anos de história de imigração dessa etnia ao Brasil, que será comemorado no ano de 2011.

Com 102 minutos de duração, o filme faz um resgate histórico da imigração ucraniana no Estado do Paraná, desde a chegada dos primeiros imigrantes há mais de um século até os dias de hoje, mostrando como os imigrantes mantiveram vivas todas as suas tradições e costumes, tais como a língua, o folclore, a religiosidade, os cantos, artesanato e arquitetura, influenciando diretamente na cultura paranaense.

Mais do que retratar a história desse povo no Paraná, o filme nos mostra um panorama geral da Ucrânia e dos principais acontecimentos políticos que marcaram a sua história, explicando os motivos das três fases da imigração desta etnia ao Brasil, traçando um paralelo entre as comunidades ucranianas do Brasil com a história da Ucrânia antiga, desde o Principado de Kiev até os dias de hoje, nos evidenciando que, um século depois, a situação econômica e política da Ucrânia não mudaram muito e os ciclos imigratórios continuam.

OS UCRANIANOS NO BRASIL 

Os descendentes de ucranianos no Brasil constituem hoje uma comunidade de mais de 500 mil pessoas e estão localizados em sua maioria – cerca de 80%, ou seja, acima de 400 mil –, no Paraná e os demais principalmente ao norte de Santa Catarina, mas também no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Brasília, Minas Gerias, e outros estados em pequena quantidade. No Paraná a maior concentração de ucranianos encontra-se em Curitiba, com aprox. 55.000 pessoas (cerca de 3% da população local), mas o maior percentual local ocorre no Município de Prudentópolis, onde numa população de acima de 50 mil, os habitantes de origem ucraniana somam mais de 38 mil, ou seja, cerca de 75% da população local, seguido de Mallet, onde o percentual de descendentes de ucranianos gira em torno de 60%, Paulo Frontin – aprox. 55%, Ivaí e Antonio Olinto – aprox. 45%, Rio Azul e Roncador – aprox. 30%, União da Vitória e Paula Freitas – aprox. 25%, Cruz Machando e Pitanga – aprox. 20%, Irati – aprox. 12%; em outras cidades o percentual é abaixo de 10%.

A organização civil e religiosa da comunidade ucraniana no Brasil é mutuamente integrada e interdependente.

Na organização civil destaca-se a Representação Central Ucraniano-Brasileira, que em sua forma atual foi constituída em 1985. Ela congrega e representa diante dos órgãos governamentais e entidades civis nacionais e estrangeiras as principais entidades constituídas na comunidade e suas organizações: Sociedade Ucraniana no Brasil, Sociedade dos Amigos da Cultura Ucraniana, Sociedade Unificação, Associação da Juventude Ucraíno-Brasileira, Igreja Ucraniana Católica no Brasil e Igreja Ucraniana Ortodoxa Ucraniana no Brasil.

A Igreja Ucraniana Católica no Brasil é a maior é a maior organização comunitária de cunho religioso e cultural entre os ucranianos no Brasil. Está presente aqui, junto aos ucranianos e seus descendentes, desde 1896. Atualmente a sua hierarquia é composta pelo bispo eparca e 2 bispos auxiliares. Sua estrutura é composta de 25 paróquias, 236 igrejas, com  21 padres diocesanos e 62 padres de Ordem de São Basílio Magno atuando no Brasil e 13 no exterior. Convém ressaltar a presença de um bispo emérito, bem como de outro, que hoje atua no exterior. A destacar também há 5 congregações religiosas femininas: Servas de Maria Imaculada, Irmãs Catequistas de Sant’Ana (congregação fundada no Brasil, em Vera Guarani, Município de Paulo Frontin-PR), Irmãs Basilianas, Irmãs de São José e Instituto Secular do Sagrado Coração (fundado no Brasil, em Prudentópolis-PR). Essas instituições possuem centenas de membros,  atuando na pastoral junto as igrejas (atendendo crianças, jovens e adultos em sua formação religiosa e cultural), bem como em escolas, particulares e publicas, como também na direção de hospitais, centros de saúdes, orfanatos e casas de apoio aos idosos.

A Igreja Ortodoxa Ucraniana no Brasil, sob a jurisdição do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, tem 1 arcebispo, 2 protopresbíteros mitrados e 8 padres, 47 subdiáconos, 18 igrejas e 2 padres atuando fora do Brasil.
Nas diversas comunidades locais atuam Grupos Folclóricos – atualmente 24, sendo os mais antigos o Barvinok (Curitiba-1930), Vesselka (Prudentópolis-1958), Kalena (União da Vitória/Porto União-1969), Poltava (Curitiba-1985).

IMIGRAÇÃO DOS UCRANIANOS NO BRASIL

Num quadro organizado a partir do livro História do Paraná, Pinheiro Machado & Westphalen (Curitiba, Grafipar, 1969), constam duas colônias oficiais criadas em 1891: Colônia Santa Bárbara – no município de Palmeira, povoada por poloneses, ucranianos e italianos e Colônia Rio Claro – no atual Município de Mallet, colonizada por poloneses e ucranianos.

As informações documentais que temos sobre os imigrantes ucranianos encaixam-se exatamente nessas datas:

Temos o testemunho pessoal de Ivan Pasevich, que em suas memórias – publicadas inicialmente no jornal “Pracia” de Prudentópolis no dia 22/12/1951 – escreve que saiu da Ucrânia, da vila Serveriv, Município de Zoloczic, no mês de maio de 1891, junto com seus pais Teodoro e Sofia e mais três irmãos, ou seja, 6 pessoas, que se estabelecem na Colônia Rio Claro. Informa também, que junto com eles chegaram ao Brasil, até Paranaguá, mas 3 famílias ucranianas.

Esta documentada também a chegada de outra 6 famílias, num total de 32 pessoas, que em 1891 se estabelecem na Colônia de Santa Bárbara, no Município de Palmeira - PR, vindas também de aldeias da Ucrânia ocidental, da região de Zolocziv: Trostanetch Malyi, Kotliv. Alguns cognomes desses emigrantes: Harasym, Borchakowskyi, Stecz, Pschitchnyi, Moskalevskyi. Esse foi o começo, modesto, mas documentado. Por isso em 1991 comemoramos o Centenário do inicio da imigração ucraniana no Brasil e em 2011 comemoramos os 120 anos.

Naturalmente o fluxo imigratório se intensificou nos anos seguintes e em 1895 tomou proporções muito grandes (fala-se na vinda de mais de 5 mil famílias) e continuou intenso até pelo menos 1911.

Houve também um modesto fluxo imigratório após a 1ª. Guerra mundial e outro após a 2ª. Guerra mundial.

Após a independência da Ucrânia (a partir de 1991) registra-se a vinda ao Brasil de algumas dezenas de ucranianos que aqui fixaram residência permanente. Trata-se – em sua maioria – de profissionais altamente qualificados, que aqui encontraram meios de vida estável. Outros que aqui chegaram por razões diversas, obtiveram a permanência em virtude de casamento com brasileiros ou por anistia.

Há que destacar-se a importante contribuição dos ucranianos na colonização e desenvolvimento da agricultura no centro-sul do Paraná e no centro-norte de Santa Catarina, no inicio do plantio de centeio e trigo e outros cereais, na implantação do sistema de cooperativas, enfim, no desbravamento e desenvolvimento dessa região. Dos filhos, netos e bisnetos dos valentes emigrantes formaram-se empresários, profissionais liberais como engenheiros, médicos, advogados, dentistas, professores, lideres comunitários, políticos, enfim cidadãos atuantes, que ajudaram em muito a promover o progresso da região sul e de todo Brasil. Na cultura destacam-se dois nomes merecedores de todo o respeito e admiração: o pinto MIGUEL BAKUN, nascido em Mallet – PR, filho de emigrantes ucranianos, conhecido pelas suas obras de arte como o “Van-Gogh” do Paraná e cujo centenário de nascimento foi oficializado comemorado no Estado do Paraná em 27/10/2009; e o outro nome ilustre é o da poeta maior do Paraná, HELENA KOLODY, também filha de emigrantes ucranianos, nascida em Cruz Machado – PR em 12/10/1912, cuja obra poética é merecedora da mais alta admiração.

Por essas personalidades, e tantas outras em sua maioria anônimas, mas atuantes e merecedoras de admiração e reconhecimento, continua essa linda história de 120 anos, que engrandece os ucranianos e seus descendentes, nesse país que os acolheu, vindos de uma pátria distante, hoje livre e soberana.


Texto de Mariano Czaikowski, Cônsul Honorário da Ucrânia em Paranaguá, Brasil.

sábado, 11 de setembro de 2010

Rio Dnipro - Ucrânia














Fizemos um passeio de barco com Ivan Boiko pelo Rio Dnipro, que cruza a Ucrânia inteira.
Um dos sonhos dele era conhecer o rio.

Encontro de Ivan Boiko com Banduristas nas ruas de Kiev

Na feira de Santo André muitos artístas fazem apresentações públicas e evidentemente, não poderiam faltar banduristas.
A história de Ivan Boiko esta diretamente relacionada a este instrumento ucraniano, que é um dos maiores símbolos de patriotísmo do povo ucraniano.
 A dupla de Banduristas tocou três canções populares ucranianas para Ivan Boiko, que ficou bastante emocionado.

Feira de Santo André - Kiev


No dia 24 de agosto (Dia da Independência da Ucrânia) fomos visitar com Ivan Boiko a tradicional Feira de Santo André em Kiev, onde filmamos as impressões dele e o contato com o povo ucraniano nas ruas.

A feira e diaria e nela encontra-se de tudo, principalmente artesanato ucraniano típico.
Abaixo temos a Catedral de Santo André que da nome a feira.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Ucrânia - KIEV

                                                 
Tudo está indo bem por enquanto. Estou sem tempo de postar todos os dias. Estamos em Kiev e aqui estamos fazendo um programa mais de turista, apresentando a capital ao Ivan, a qual ele não conhecia (filmando tudo evidentemente). Ele esta fascinado com a beleza da cidade, principalmente das igrejas.

                                              Ao fundo Catedral de Santa Sophia

Museu de Instrumentos Musicais Ucranianos onde deixamos uma Bandura confeccionada por Ivan Boiko, a qual passa fazer parte do acervo e da história a partir de agora.

Ivan Boiko foi recepcionado por grupo de artesões e tocadores de Bandura em Kiev.

Link matéria filme na Gazeta do Povo

Prezados...

Vejam matéria da Gazeta do Povo sobre o filme IVÁN - DE VOLTA PARA O PASSADO no link abaixo.

http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1038580&tit=Vai-doer
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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Iván, a cada dia uma surpresa

Na quarta-feira estive na casa de Iván Boiko para pegar uma Bandura que ele fez, a qual estou levando pra Ucrânia conosco e fiquei surpreso com vários desenhos que Iván me mostrou das estradas pelas quais teremos que percorrer pelo interior da Ucrânia para chegarmos até a sua aldeia natal Koniuchê, na província de Ternópil. Além das estradas, ele desenhou a sua aldeia inteira numa planta baixa, com uma riqueza de detalhes incrível. Vamos ver o que ainda resta na aldeia daquilo que está no imaginário dele de como era o local na sua juventude. A casa onde ele nasceu, ainda é a mesma.

Viagem para a Ucrânia...

Finalmente, depois de três anos de trabalho na pesquisa, desenvolvimento do projeto, roteiro e pré-produção aqui no Brasil e na Ucrânia, chegou o dia da viagem para a Ucrânia em busca do passado de Iván Boiko. Ontem estivemos novamente filmando na casa dele em Curitiba. Registramos ele preparando as malas e a sua expectativa com a partida. Iván me confessou que está muito preocupado com a irmã dele, a qual irá reencontrar 78 anos depois, na cidade de Nikolaiev, no sul da Ucrânia. Ele teme que ela não resista a emoção. Me pediu encarecidamente para que preparemos / informemos ela antes de que chegaremos lá com ele.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Minha motivação para fazer o filme IVÁN - DE VOLTA PARA O PASSADO

Em 2005 tive a oportunidade de conhecer Iván Boiko pessoalmente quando da realização de outro filme que produzi e dirigi relacionado à história da imigração ucraniana. Certo dia fui surpreendido em um encontro com Iván Boiko, que bastante emocionado, me entregou dois cadernos manuscritos cheios (em língua ucraniana). São os registros de memória (diários) da sua vida, onde estão retratados os horrores que ele e sua família passaram durante o comunismo soviético e o seu martírio na segunda guerra nas mãos dos nazistas. Confesso que levei um susto com aquilo, minha primeira reação foi recusar e ele então insistiu e disse:



“Ponhei isso aqui no papel desses caderninho, porque non quero que meu história e daqueles outro gente, morra comigo. Foi sido muito triste o que fizeram com nossa gente, olha, ninguém não me acredita. Eu não preciso mais (cadernos) por eu sei tudo que tá escrito. Ta tudo aqui dentro (cabeça). Não preciso mais guarda. Sei que vai tá em mão boa gente e um dia senhor pode quere isso, pra contar pra outros oqueque aconteceu com nóis lá naquele Soviet Union e no Alemanha”.

O argumento resumido é apenas parte do que ali está retratado nos diários. No dia em que recebi esses manuscritos das mãos de Iván Boiko, entendi que também recebi uma missão, qual seja, a de repassar essa história adiante. Quero dar a ele mesmo a oportunidade (ainda em vida) de contar sua própria história e de seu povo para o mundo através desse documentário. Sua história merece ser contada e (re) conhecida. Faz parte do contexto histórico mundial, brasileiro, paranaense e curitibano. 

Felizmente estou tendo a oportunidade de registrar a sua memória viva em tempo e para isso foi imprescindível contar com sensibilidade e apoio do Programa Petrobrás Cultural que está patrocinando o projeto.

Argumento Resumido filme IVÁN - DE VOLTA PARA O PASSADO

Ao longo de sua história, a Ucrânia sempre sofreu invasões. O martírio de IVÁN BOIKO começou em 1939, quando o regime moscovita / soviético invadiu a Ucrânia. Assim que os russos tomaram a Ucrânia, imediatamente começaram a implantar o seu sistema comunista, confiscando todos os bens do povo e adaptando todos ao trabalho coletivo.

Em 1941 em virtude da segunda guerra mundial, com o avanço das tropas alemãs para o leste europeu, os russos abandonaram o território ucraniano e entrou a Alemanha. Logo que os alemães invadiram e dominaram a Ucrânia, começaram as barbáries da guerra. Os soldados nazistas percorriam as aldeias ucranianas, invadindo e saqueando as casas, estuprando as mulheres, além de outras atrocidades.

Os alemães estabeleceram uma regra: as famílias que tivessem três ou mais jovens em casa, independente do sexo, pelo menos um seria obrigado a ir trabalhar na Alemanha.

IVÁN BOIKO tinha duas irmãs. Uma ainda adolescente, mais nova que ele, a qual está viva na Ucrânia e que ele sonha em reencontrar, e outra mais velha que ele. Os alemães determinaram que a irmã mais velha fosse para a Alemanha.  IVÁN BOIKO para proteger a sua família, conseguiu convencer os oficiais do exercito alemão a levarem ele no lugar dela. E assim foi feito. Ele foi arrancado da Ucrânia sem se querer ter se despedido da família.

IVÁN BOIKO chegou à Alemanha em 1942 e lá permaneceu fazendo trabalho forçado em diversas áreas / funções até 05 de abril de 1945, quando foi libertado pelas tropas aliadas, lideradas pelo exercito americano.

Todos que trabalharam na Alemanha foram declarados inimigos pelo governo (russo) soviético, sob a alegação de que tendo trabalhado na Alemanha, ajudaram diretamente o regime nazista de Hitler na guerra contra a Rússia, por isso eram considerados traidores.

Não era levada em consideração de que tinham sido obrigados pelos alemães àquela situação. Aqueles que tiveram a sorte de não terem sido assassinados pelos russos (se é que podemos chamar isso de sorte) foram enviados para o degredo na Sibéria.

Assim definiu IVÁN BOIKO essa situação: “Saímos da Gestapo, vamos para a KGB”.

Trinta países aceitaram acolher / dar abrigo a estes refugiados e/ou perseguidos de guerra, entre eles o Brasil.



IVÁN BOIKO e a esposa, também cidadã ucraniana que conheceu na Alemanha, se inscreveram então para virem ao Brasil. Isso já era no ano de 1947 e até então eles viveram em acampamentos organizados pela Cruz Vermelha e pela ONU (ainda em fase embrionária), onde se conheceram.

No dia 20 de abril de 1948, IVÁN BOIKO e a esposa chegam à cidade do Rio de Janeiro, transportados por um navio militar americano.

No dia 29 de maio de 1948 as 09h00min da manhã, IVÁN BOIKO, a esposa e a filha recém nascida, chegaram a Curitiba, sem conhecer absolutamente ninguém e não sabendo falar uma palavra em português. A única coisa que ele sabia era que em Curitiba o clima era frio, portanto mais parecido com o da Europa e que existia uma sociedade ucraniana e igrejas ucranianas.

Ele foi acolhido nos primeiros dias na sede da sociedade ucraniana, até hoje localizada na Rua Augusto Stellfeld, na região central da capital paranaense.

Na mesma semana, no domingo, ele foi até a igreja ucraniana situada na Rua Martin Afonso, localizada próxima à sociedade.

No dia seguinte apareceu um cidadão na sociedade ucraniana e levou IVÁN BOIKO e família para viverem em sua casa. Ele se emociona ao lembrar e diz:

“Nóis, quando nóis chegaram nesta casa, olha e viver com aqueles cidadões, e claro que cidadão de idade, né, e bem pobre também... e tudos vivia como uma família só. Um fogão, uma panela e uma conta eterna de gratidão pra paga... e graças a Deus... até eu abrir a minha vida por aqui no Brasil”.

Para sobreviver em Curitiba no começo ele fez de tudo. Aonde podia fazer qualquer coisa para ganhar um pouquinho, lá estava ele trabalhando. Jamais recusou um serviço, fosse qual fosse. A estabilidade veio quando conseguiu um emprego de costureiro na Policia Militar do Paraná, onde trabalhou por 27 anos consecutivos até se aposentar, confeccionando as fardas militares.

Mesmo com todas as dificuldades pelas quais passou ele se considera uma pessoa privilegiada por ter tido a sorte de ser acolhido aqui e tem um orgulho e amor pelo Brasil tão grande, que certamente deve superar muitos de nós brasileiros.

Em 1964, já estabilizado e totalmente integrado a sociedade curitibana, IVÁN BOIKO participava da Sociedade dos Amigos da Cultura Ucraniana existente no bairro do Portão, em Curitiba. Quando houve o golpe militar no Brasil naquele ano, segundo ele, foi à maior tristeza. A maioria dos imigrantes ucranianos vindos na terceira fase da imigração motivados pela segunda guerra mundial ficou com medo de reviver os pesadelos do comunismo soviético ou das atrocidades nazistas e começaram a migrar para a América do Norte, mais especificamente Estados Unidos e Canadá, onde existem grandes colônias de imigrantes ucranianos.

Os imigrantes das duas levas anteriores já estavam todos solidificados aqui e as motivações que os trouxeram, tinham sido outras.

Quando IVÁN BOIKO se deu por conta, já não tinha quase ninguém na sociedade dos amigos da cultura ucraniana, a qual tinha sido criada em 1948 justamente para acolher e abrigar os imigrantes novos que estavam chegando pós-segunda guerra mundial. Foi a partir da debandada dos seus compatriotas em 1964 que ele resolveu fazer o instrumento ucraniano BANDURA, como uma forma simbólica de acender novamente a chama da coragem e da esperança no coração dos ucranianos que aqui permaneceram.

A BANDURA é o mais popular dos instrumentos musicais ucranianos. É o símbolo da resistência nacional na busca da liberdade e da independência da Ucrânia. A BANDURA esta entrelaçada com a própria história milenar do povo ucraniano.

O som de suas cordas embalou os sonhos ucranianos provavelmente com maior intensidade à época dos cossacos. Em certa época, o Tzar da Rússia baixou decreto proibindo o uso da BANDURA, temeroso de que, através das suas mensagens, revivesse no povo ucraniano o desejo de reconquistar a liberdade. Os infratores, além de perderem o instrumento, eram punidos com severas penas, inclusive com o degredo para a Sibéria.

Durante a época de Stalin, quando a Ucrânia então subjugada à União Soviética, possuía resistências muito fortes à incorporação, muitos Banduristas foram eliminados e instrumentos foram transformados em fogueira. Isso porque, sendo o instrumento musical nacional da Ucrânia, a BANDURA tornou-se um símbolo de liberdade e um povo aprisionado em sua autodeterminação não podia ter ideal libertário.

IVÁN BOIKO não tinha a mínima noção de como era feito um instrumento destes, já que na região rural da Ucrânia onde ele nasceu não existia BANDURA. Sem nada conhecer do assunto e nem dispor de equipamento adequado (apenas um machadinho), contudo, a partir de uma foto do instrumento em um jornal, dedicando para isto todos os seus momentos de folga, conseguiu o seu intento.

O primeiro instrumento que IVÁN BOIKO produziu (todo tordo) é considerado hoje um patrimônio cultural da comunidade ucraniana do Paraná e, desde que iniciou o oficio há mais de 30 anos, IVÁN BOIKO já fez um número superior a 600 BANDURAS, todas manualmente, sendo as mais recentes tecnicamente tão perfeitas quanto às fabricadas na Ucrânia. Até hoje ele é o único a fabricar BANDURA no Brasil.

A partir do trabalho iniciado pelo senhor IVAN BOIKO, o interesse pela BANDURA intensificou-se no Brasil. Ele próprio organizou no começo um grupo chamado “Banduristas Ucranianos de Curitiba”, o qual existiu por 27 anos e fez apresentações públicas em diversas regiões do Brasil. Hoje existem dois grupos e escolas de Banduristas no Brasil: A “Capela de Banduristas FIALKA” em Curitiba e o “Grupo SOLOVEIKO” em Prudentópolis/Pr.

Apresentação / Objetivos / Justificativas do filme IVÁN - DE VOLTA PARA O PASSADO

Apresentação:

A diversidade étnica é uma das marcas do Paraná, que abriga colônias e comunidades de diversas culturas, entre elas estão os ucranianos.

A imigração ucraniana no Brasil começou no final do século XIX e teve três grandes levas até 1952. Calcula-se que o grupo étnico ucraniano e seus descendentes no Brasil somam cerca de 400 mil pessoas, das quais 81% vivem no Paraná. Deste total, estimasse que 100 mil encontram-se na cidade de Curitiba, entre elas está IVÁN BOIKO, que chegou à cidade em 1948.



Ele veio na terceira fase de imigração ucraniana ao Brasil como refugiado de segunda guerra mundial. A sua história de vida impressiona e emociona.

Em 1942 Iván Boiko foi arrancado da Ucrânia e levado pelos nazistas para trabalho forçado na Alemanha, onde permaneceu até 1945. Com o fim da segunda guerra mundial ele não pode retornar à Ucrânia porque os Russos dominaram a Ucrânia novamente e declararam inimigos / traidores todos aqueles cidadãos da então União Soviética que estiveram ajudando na Alemanha, mesmo que em circunstancias como as vividas por Iván Boiko. Se ele retornasse seria morto ou então se tivesse sorte (?), seria preso e enviado para a Sibéria.

Para Iván Boiko sobrou à alternativa de buscar refugio em outro País e ele escolheu o Brasil, mais especificamente, a cidade de Curitiba.




Objetivos:

Pretendemos fazer de forma subjetiva, um estudo etnográfico, sociológico e cultural dos imigrantes ucranianos no Brasil, através da história de vida de Iván Boiko.

Iván Boiko traz a marca da história vivida. É um símbolo de resistência e obstinação.

Os ucranianos são muito ligados aos seus costumes e tradições. Iván Boiko é um componente importante desta cultura no Paraná, mas poucos sabem da sua existência.

No Brasil não existia até a sua vinda nenhum instrumento musical ucraniano.

O patriotismo e o amor a sua cultura de origem, levaram Iván Boiko a fabricar a BANDURA – instrumento musical nacional dos ucranianos.

O documentário terá paralelamente como tema a Bandura. Esse instrumento se relaciona diretamente com a história heróica do povo ucraniano e é uma extensão de Iván Boiko.



Fabricar a Bandura significou uma forma dele se sentir mais próximo do seu país de origem, o qual foi obrigado a abandonar.

A Bandura é espelho da alma ucraniana e Iván Boiko espelha a história deste bravo povo que ajudou a construir o mosaico cultural do Estado do Paraná.

O maior sonho de Iván Boiko, ao qual ele próprio já não tem mais esperanças de realizar, é viajar para a Ucrânia para reencontrar a única pessoa ainda viva da sua família: uma irmã que está com mais de 80 anos de idade e mora atualmente na região de Odessa, no sul da Ucrânia.

Desde que saiu de sua terra natal, quando foi levado pelos alemães, há 78 anos, eles nunca mais se viram.

Iván Boiko nunca conseguiu retornar para a Ucrânia porque não teve condições financeiras para custear a viagem. 

Ele também tem o desejo de visitar a Aldeia Rural aonde nasceu e viveu até a sua juventude, na Província de Ternópil, oeste da Ucrânia, para tentar reencontrar algum amigo de juventude, além de ter muita curiosidade em saber como está o local hoje, se a casa aonde nasceu ainda existe, etc.

Queremos proporcionar através deste projeto uma viagem “DE VOLTA PARA O PASSADO” na vida de Iván Boiko, levá-lo até a Ucrânia, passando primeiro pela Alemanha, e documentar todo trajeto, desde a saída do Brasil até a chegada na Ucrânia e o tão sonhado reencontro com a sua irmã em sua terra natal.

Será um ensaio audiovisual focando o universo das narrativas orais (imaginário de Iván Boiko),visuais (paisagens da Ucrânia) e sonoras (através dos sons da Bandura).


Justificativa:

Imigrantes guardam hábitos, tradições e histórias que vivificam, no presente, o passado de um povo.

Iván Boiko será interprete e mediador da consciência e da memória coletiva dos horrores da guerra vividos por esse povo, através das coisas armazenadas em sua mente, alma e coração, que mesmo depois de décadas, permanecem vivas.

A idéia é construir um documentário com imagens e sons que funcionem como canais de acesso a uma experiência do imaginário, que atravessem as simples lembranças de Iván Boiko e cheguem até o nosso imaginário e aos nossos corações também.

É justo que reconheçamos a contribuição de Iván Boiko para a cultura paranaense e brasileira através deste documentário.

A Bandura, assim como as demais manifestações culturais dos ucranianos, integra o patrimônio cultural e imaterial do Paraná e consequentemente do Brasil.

Nada melhor do que ele próprio narre a sua história através deste documentário.

Sinopse do filme IVÁN - DE VOLTA PARA O PASSADO

Viagem de volta para o passado na vida do imigrante ucraniano Iván Boiko.

IVÁN - DE VOLTA PARA O PASSADO

Olá pessoal...
Começo este blog com informações do meu novo Documentário de Longa Metragem sobre a vida do imigrante ucraniano Iván Bojko. Ele veio ao Brasil em 1948 como refugiado de segunda guerra mundial e nunca mais voltou para a Ucrânia. Agora vamos fazer uma viagem de volta ao passado de Iván Bojko 68 anos depois dele ter sido arrancado pelos nazistas da sua aldeia natal no município de Berejany na Província de Ternópil na região oeste da Ucrânia e levado para trabalho forçado na Alemanha. O mesmo trajeto que Iván fez na vinda, vamos percorrer com ele no retorno a sua terra natal. Começamos a primeira etapa das filmagens do Brasil dia 05 de agosto de 2010 na cidade de Curitiba, onde vive Iván Bojko e dia 20 viajaremos pra Ucrânia. Vou tentar fazer postagens diárias para mantê-los informados do andamento da produção.






O filme tem patrocínio da PETROBRÁS através do Programa Petrobrás Cultural.


Até breve...


Guto Pasko